Ideias para revitalizar o Centro | Raul Jungmann

Ideias para revitalizar o Centro

Revitalizar as áreas centrais das grandes cidades, tornando esses espaços mais úteis e atraentes, é uma tendência observada em diversas capitais brasileiras e que tem desafiado os urbanistas. A preocupação é a mesma no Recife, onde empresários e gestores públicos tentam dar funcionalidade aos espaços vazios e degradados do Centro.

Ontem, estudiosos da área de urbanismo trouxeram o assunto à tona, relatando experiências ao redor do mundo que podem ser aplicadas ao caso pernambucano. O tema foi tratado durante o ciclo de palestras “Novos territórios, velhas metrópoles”, dentro da programação científica do 19º Congresso Brasileiro de Arquitetos, que acontece até amanhã no Centro de Convenções, em Olinda.

“Área pode servir a faixas da população que não têm oferta de moradia para sua renda”
Milton Botler, arquiteto

Basta um passeio rápido pelo centro do Recife para perceber que há um verdadeiro cemitério de imóveis, públicos e privados, à espera de um novo aproveitamento, seja para o comércio, serviços ou habitação. Segundo o coordenador-geral do Instituto Pelópidas Silveira, órgão criado pela Prefeitura para estudar o planejamento estratégico do município, Milton Botler, existem cerca de cinco milhões de metros quadrados edificados e vazios na região central da cidade. Ele explica que isso é reflexo das transformações sociais ocorridas nas últimas décadas. “A capital se expandiu para outras áreas, motivada pela mudança do programa habitacional da classe média, que vai morar em condomínios fechados, e pela migração de parte do comércio. Hoje você tem o shopping center que deu outra centralidade a Boa Viagem e simulacros de espaços públicos, como as praças de alimentação, que são frequentados pelas pessoas”, analisa.

Os estudiosos defendem que, uma vez identificado um vazio urbano, como é o caso de trechos do Centro, é preciso investir em planos de reocupação para que o estado volte a utilizar uma infraestrutura já montada nesses lugares, otimizando os recursos públicos. “Defendo que se faça um monitoramento desses espaços e que se dê um destino a eles, que pode ser a requalificação predial ou uma intervenção mais categórica. Reciclar os espaços, nesse caso, é mais importante que reaproveitar os prédios”, sugere o superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) no Rio de Janeiro, Carlos Andrade. Ele cita a criação de parques ou o reassentamento de famílias que moram em favelas como soluções que podem ser adotadas nas áreas degradadas do Recife.
 
Já a proposta da PCR para o Centro está mais pautada nos projetos habitacionais. De acordo com Milton Botler, essa área pode ser um filão para suprir a falta de imóveis em outras partes da cidade para as classes baixa emergente e média baixa. “O Centro abandonado pode servir a essas faixas da população que não têm encontrado ofertas de moradias para a sua faixa de renda”, opina. Para o urbanista, essa reabilitação se constrói com medidas como a melhoria do transporte público, para garantir mobilidade a essas pessoas, e investimentos no bem-estar coletivo, como criar corredores exclusivos para pedestres. “Tudo isso será trabalhado na atual gestão da PCR”, adianta.

Populares – Outra solução para promover a urbanização de áreas degradadas do Centro é utilizar prédios vazios em programas habitacionais direcionados para a população de baixa renda. Essa proposta é defendida pela superintendente de habitação da cidade de São Paulo, Elisabete França. Ela coordena um dos maiores programas de urbanização de favelas em curso no país. Na capital paulista, cerca de 60 prédios da região central estão sendo adaptados para se tornarem moradias populares. “Isso faz com que o centro tenha vida, não só comércio e serviços. Assim, são recuperados não apenas os prédios, mas a própria cidade”, enfatiza.