Alunos da rede pública na luta contra o crack | Raul Jungmann

Alunos da rede pública na luta contra o crack

Trezentas crianças da rede pública de ensino engrossaram o time da luta contra o crack em Pernambuco. Nesta quarta (01) no auditório do Fórum do Recife, elas receberam o diploma de conclusão do Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (Proerd).

A formação é baseada em 10 lições de cidadania e direitos humanos que capacitam estudantes para resistir às propostas de consumo e ajudar parentes e amigos a não ingressar no vício. A expectativa é que o número de formados alcance 18 mil alunos até o fim do ano.

O Proerd é uma iniciativa da Polícia Militar. Em Pernambuco, existe há 10 anos, mas está presente ainda em todo o Brasil, além de 54 países. A formação acontece em sala de aula, liderada por um policial militar fardado e desarmado. As aulas são direcionadas para evitar todas as drogas, mas por causa do crescimento acentuado do consumo de crack no Estado, essa tem sido o foco principal da abordagem.

“A mudança no comportamento dessas crianças é significativa. Os professores contam que eles se comportam melhor, passam a se interessar mais pelos estudos. Por outro lado, temos conseguido construir uma imagem positiva dos policiais militares para as comunidades. Isso sem falar no objetivo principal do programa, que é o combate às drogas”, contou o gerente de prevenção e articulação comunitária da Secretaria de Defesa Social (SDS), João Evangelista.

A participação dos pais durante a capacitação é fundamental e muito valorizada pelo Proerd. “Eles participam intensamente. A importância desse projeto é grande justamente porque trabalhamos com a base de formação da criança, criando laços entre família, escola e poder público”, ressalta.

Nos 10 anos de atuação, João Evangelista diz enxergar os resultados todos os dias. “A droga não tem classe social. Está inserida em todas as camadas, desde as favelas até as famílias ricas. O que muda, com o poder aquisitivo, é o tipo de droga que eles consomem. Mas quando olhamos para essas crianças, podemos ver pessoas preparadas para dizer não ao vício e ajudar outros a fazer a mesma coisa”, acredita João Evangelista.

Escolhida para representar a turma formada ontem e ler o juramento do Proerd, Karina Maria da Silva, 10 anos, era o orgulho em pessoa. Aluna do 5º ano do fundamental I na Escola São Judas, em Campina do Barreto, ela chorou quando acabou o discurso e foi aplaudida. “O curso foi ótimo. A gente se divertiu muito com os policiais. O que a gente aprendeu vai servir para a vida toda, para mim e para meus primos e amigos”, avalia a menina.

A luta contra o crack em Pernambuco tem sido travada em várias frentes. A ação será cada vez mais eficiente na medida em que houver mais informações sobre o número de usuários e o perfil de quem fuma. O dado mais recente é de 2005 e vem de um levantamento realizado pelo Centro Brasileiro de Informações Sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), vinculado à Universidade de São Paulo (USP). Em janeiro, o mesmo Cebrid fará nova pesquisa, dessa vez qualitativa e quantitativa, mapeando a situação em Pernambuco.

De acordo com a pesquisa, há cinco anos havia 60 mil consumidores de crack no Estado. Atualmente, os centros de atendimento públicos realizam cerca de 2 mil atendimentos ao mês. Com investimentos previstos na ordem dos R$ 60 milhões, serão construídos, até o fim de 2011, 50 novas unidades com novos 20 mil leitos. O projeto está em fase de licitação.