Iraniana condenada por apedrejamento concede entrevista | Raul Jungmann

Iraniana condenada por apedrejamento concede entrevista

 “A resposta é bem simples. É por eu ser uma mulher, é por eles acharem que podem fazer o que quiserem com as mulheres, neste país.” É assim que Sakineh Mohammadi Ashtiani, a iraniana de 43 anos condenada a morte por apedrejamento pelo crime de adultério, define o motivo pelo qual aguarda por uma das mais cruéis penas de morte do mundo.

Presa desde 2006 na cadeia de Tabriz, Sakineh falou nesta sexta-feira (6) ao jornal britânico Guardian por meio de um intermediário cuja identidade não foi revelada por razões de segurança. Na entrevista, ela revela a dor que vem lhe corroendo lentamente desde que assinou sua sentença de morte.

Leia abaixo as principais declarações de Sakineh.

Apedrejamento

“A resposta é bem simples. É por eu ser uma mulher, é por eles acharem que podem fazer o que quiserem com as mulheres, neste país”.

“Para eles, adultério é pior que homicídio. Mas não todos os tipo de adultério: um homem adúltero pode nem ser preso, mas uma mulher adúltera é o fim do mundo”.

“É por estar em um país onde as mulheres não têm o direito de se divorciar de seus maridos e estão privadas de direitos básicos”.

Medo

“Eles [as autoridades iranianas] estão mentindo. Estão envergonhadas com a atenção internacional dada ao meu caso e tentam desesperadamente distrair a atenção e confundir a mídia para que pudessem me matar em segredo”.

Julgamento

“Eu fui considerada culpada de adultério e fui absolvida pelo homicídio. O homem que realmente matou meu marido foi identificado e preso, mas ele não foi sentenciado à morte”.

“Quando o juiz me entregou minha sentença, nem percebi que deveria ser apedrejada à morte porque eu não sabia o que ‘rajam’ significa”.

“Eles me pediram para assinar minha sentença e eu o fiz, daí eu voltei à prisão, e os meus companheiros de cela me disseram que eu seria apedrejada à morte e eu, instantaneamente, desmaiei”.

Advogado

“Eles queriam se livrar do meu advogado [Mohammad Mostafaei] para que pudessem facilmente me acusar do que quer que fosse sem que ele denunciasse. Se não fossem os esforços dele, eu já teria sido apedrejada à morte, a essa altura”.

Prisão

“As palavras deles [dos guardas de Tabriz], o jeito como eles me olham – uma mulher adúltera que deveria ser apedrejada à morte – é como ser apedrejada à morte todos os dias”.

Campanha

“Todos esses anos, elas [as autoridades iranianas] tentaram colocar uma coisa na minha cabeça, me convencer de que eu sou uma mulher adúltera, uma mãe irresponsável, uma criminosa. Mas, com o apoio internacional, uma vez mais eu me vejo uma pessoa inocente”.

“Não deixem que eles me apedrejem diante do meu filho”.